18 outubro 2008

o amor entre ele e tereza certamente era belo, mas também cansativo: era preciso sempre esconder alguma coisa, dissimular, fingir, retificar o que dizia, levantar-lhe o moral, consolá-la, provar continuamente que a amava, suportar as reprovações de seu ciúme, de seu sofrimento, de seus sonhos, sentir-se culpado, justificar-se e se desculpar...

- tomas [em a insustentável leveza do ser, de milan kundera]

16 outubro 2008

as coisas não estavam boas para o meu lado. eu não estava conseguindo me desvencilhar. e escrevi ontem durante uma aula: passados oito dias, ainda esperava uma palavra, uma ligação, qualquer coisa contundente que viesse de você e me alegrasse o dia.

assim mesmo, bem loser e bem fucking-needy. mas hoje veio o feriado, veio uma disposição sobre-humana de ir ao mar e chegando lá tive aquela conversa com yemanjá. falei de como estava me sentindo, pedi ajuda para voltar a fazer sentido sozinha e mergulhei mentalizando a água levando todos os pensamentos indesejáveis.

óbvio que o destino, sendo esse personagem fugido do saturday night live, não sabe a hora de parar de brincar. e, no final da tarde, lá estava na porta do meu quarto o alvo de minha estima e danação. e como lidar com o inesperado dessa forma? não lidando né?

recebi um presente, um pedido de desculpa pelo 'desastroso atraso' e uns minutos de conversa sobre banalidades.

[quanta ambivalência nessa vida]

10 outubro 2008

coda ou "a epopéia" parte VI

em novembro do ano passado, eu fui de são paulo para curitiba com planos de passar cinco dias em buenos aires e dez dias no paraná. eu já tinha 40 pesos comprados, uma amiga ia me pegar no aeroporto de ezeiza, everything was beautiful and nothing hurt.

o roteiro era chegar em curitiba, ir para casa de aninha e menos de 24h depois já estar no avião. minha ansiedade atingia níveis estratosféricos. era a primeira viagem internacional e logo para argentina [meu país preferido de todos os tempos]. ana me deixou no ponto onde passa um ônibus direto para o aeroporto, fui bonitinha, fiz check in, e quando chegou na hora de passar pela polícia federal simplesmente o policial olhou meus documentos e disse 'você não vai'. eu com aquela cara de 'what nigga?'. e ele 'você não vai'.

segundo ele, o problema era que minha identidade foi expedida por órgão militar e não civil. e que o acordo de reciprocidade entre os países do mercosul só prevê viagem de brasileiro portador de identidade civil. oi? claro que na hora eu sozinha, chocada, menina-encolhida-no-canto-de-castigo NEM SOUBE REAGIR e tentando segurar o choro disse que aquilo não tinha nada a ver, que meu RG segue sendo meu RG independente do órgão emissor. claro que ele disse que eu estava errada e havia sido mal instruída pela companhia aérea. nessa hora não agüentei, botei o rabinho entre as pernas, comecei a chorar e voltei pro balcão da GOL.

expliquei a história e eles concordaram com a polícia federal [!!!], insinuando que EU não tinha lido as letras miúdas do contrato ao comprar a passagem, e tipos amo letras miúdas, amigo. li tudo, garanto. mas com eles nem tinha conversa, já era 'me diga como é sua mala para mandarmos buscar', e no auge do comportamento passivo-agressivo falei 'preta de rodinha', rá. podia ter facilitado tudo falando da fita über colorida do senhor do bonfim, mas nem.

uma itaipu em lágrimas depois, o cara chega com a mala e me transfere para outro guichê da GOL para tentar resolver a questão do cancelamento da passagem. explico pra mocinha que preciso cancelar porque não pude embarcar e ela 'você chegou atrasada?'. desabei, a pobre recebeu toda a carga do meu ódio. entre soluços eu falei [mezzo gritando] que não, que tinha chegado cedo e que o ridículo do policial só estava fazendo tudo aquilo porque eu não tinha como recorrer, porque eu estava sozinha e morava em natal, que meu pai era militar e eu não ia ter duas identidades com o mesmo número. eu tava tão devastada com a situação que a moça teve pena e nem a taxa de serviço pela emissão da passagem ela cobrou, e recebi o dinheiro todo de volta.

agora só pra deixar claro, todos os sites do ministério das relações exteriores, sobretudo o de apoio a brasileiros no exterior, dizem que:

é documento parte do acordo de mobilidade "Cédula de Identidade expedida por cada Estado da Federação com validade nacional". ou seja, EU ESTAVA CERTA. e posso processar a polícia federal.

e como life only gets better... depois de todo o drama fui ligar para ana para descobrir como voltar, quem disse que ana estava em casa? ou atendia o celular? eu não tinha o endereço, o aeroporto ficava em outro município, logo um táxi seria os olhos da cara e eu, de tão perdida, não raciocinava.

liguei a cobrar para outra amiga que nem sabia que eu estava em curitiba, muito menos que estava indo para bsas. e ela, na atitude mais altruísta do mundo, foi me buscar na mesma hora. para tentar melhorar tudo ela ainda me levou ao mercado municipal. comprei o melhor do sul do país: morango e chocolate. só consegui falar com ana à noite, mas deu tudo certo.

nunca pensei que a cidade fosse ser tão bonita, cada dia visitávamos um parque mais lindo que o outro. em compensação, jurava que ia ver milhares de pessoas atraentes pelas ruas e nada! uma galera com cara de camponesa, meio cheinha... culpa da polenta, acho.

sinto muita saudade dessa primavera. de sair toda agasalhada para andar na feirinha do largo da ordem. de irmos ao jardim botânico passar a tarde inteira comendo ameixas deitadas de barriga pra cima, sorrindo nossas bobagens e cantando belle and sebastian.


 



saudade também do dia na ópera de arame e depois na pedreira paulo leminski [e nossas fotos saltando haha]. esse dia é tão especial na minha memória. depois da pedreira seguimos para o parque tanguá... vazio vazio, andamos até um deck, deitamos. uns raios de sol morninhos vinham... e contra todas as possibilidades nós três, do nordeste, ficamos ali blusas levantadas pegando sol no sul do país. nessa hora fotografei uma nuvem em formato de coração, vejam só como curitiba é pura poesia. na saída do parque, como boa gorda, convenci as meninas a irmos na padaria comprar bolo de chocolate. levamos o bolo e fomos conhecer a suposta melhor batata frita da cidade num boteco gracioso chamado 'pudim'. e a noite terminou: bolo + batata frita + cerveja. fomos andando de volta pro apartamento gargalhando. todos os dias poderiam ser assim.




tudo em curitiba é bem cuidado. os bares que conheci lá são todos infinitamente melhores que os daqui. o VU, o wonka, o mafalda. um pessoal que se preocupa com decoração, com bom atendimento... natal tem tanto a aprender.

fomos conhecer a torre das mercês, um andar panorâmico numa torre da brasil telecom e que funciona como ponto turístico. o mirante tem uns 90m de altura e dá pra ver a cidade 360°, nunca vi tanto verde em uma capital... chega dá esperança no mundo.

vimos o show do 'wandula' no sesc. e que espetáculo maravilhoso! a banda é tão boa que nem parecia brasileira haha. tinha de tudo no palco: harpa, xilofone, piano, escaleta, acordeon, violoncelo, guitarra, baixo... hipnotiza. é tudo feito com muito cuidado, um dos shows mais envolventes que já fui.


sempre tive preconceito com museu até conhecer o da língua portuguesa em são paulo e calar a boca. em curitiba fomos ao museu oscar niemeyer. e como lá é lindo! nunca me imaginei falando isso de um museu, mas foi uma tarde inteira perdida lá dentro, achando tudo genial. vimos exposição do pablo atchugarry [que eu já tinha visto em brasília e que faz umas coisas soberbas com mármore], uma seleção de fotos chamada instantâneos da felicidade, uma área em homenagem ao próprio niemeyer, a sala sensorial da amelia toledo [com aqueles espelhos que engordam e emagrecem], a "autobiografia do gesto" de emanoel araújo e o acervo do museu da solidariedade [chile] pela primeira vez no brasil. fico sendo repetitiva e falando que tudo era bonito, mas é porque era mesmo. até o banheiro do museu era lindo! aqui na roça onde vivo nem museu [que preste] tem.

ainda conhecemos outros parques. tivemos várias outras tardes de caminhada [com trufas de chocolate branco]. fomos à biblioteca, ao cinema, ao centro. tudo é divertido com as meninas por perto. que falta curitiba me faz.