30 janeiro 2008


a moça da tv prevê silêncios e nuvens.

-roberta sá [em belo estranho dia]

29 janeiro 2008

o estágio hoje foi 'devil wears prada' meets 'run, lola, run'. tive que separar listas de nomes de jornalistas, preparar etiquetas, envelopar revistas e sair com motorista pra entregar 100 delas em uns oito pontos diferentes da cidade. entre tudo isso ainda achar tempo de falar com a secretaria de educação pedindo (implorando!) listas atualizadas de diretores de escolas municipais e tentar abrir uma conta na caixa econômica sem dezenas de xerox e autenticações.

o último local da missão "officeboy way of life" foi logo na universidade. e aproveitei para dar uma passada no meu departamento que tô mesmo precisando falar com o coordenador. obviamente não tinha ninguém. nem uma viva alma em todo aquele setor.

desde julho acho que não pisava na UFRN. é estranho demais olhar um espaço assim vazio e pensar milhões de dias vividos ali com milhões de pessoas... e nada disso fazer parte da sua vida agora. me senti muito distante de tudo. nessas horas sempre preciso ver alguém na tentativa de que a vida real me faça skip-the-drama. aí fui conhecer o laboratório de engenharia têxtil com uma amiga. desde 2003 acho que não via tantos números. não há drama que resista.

vou passar a noite com nina simone gritando 'i got life' nos fones, só pra garantir.

28 janeiro 2008

sobre a redescoberta do cerrado ou "a epopéia" parte III

quando eu cheguei em brasília a seca estava no auge. era metade de agosto e a cidade estava há quase 100 dias sem chuva. o gramado entre as pistas do plano piloto ia amarelado de uma ponta à outra. os ipês, que ficam completamente coloridos na primavera, estavam só galhos secos.

a bruna foi uma excelente anfitriã. e, cara, eu adoeci na primeira semana, sabe? perdi a voz, dei trabalho, até chá de alho aceitei tomar pra ficar boa. foi horrível, mas eu melhorei.

nos 17 dias que fiquei lá conheci uns oito bares. natal não tem oito bares freqüentáveis.

fui na primeira vernissage da minha vida. quase não lembro dos quadros, mas nunca esquecerei o fondue de chocolate que foi servido.

não gostei muito da boate que eu conheci, a landscape.
mas adorei o zoológico e o ccbb. passeei na unb, pelas galerias, pela biblioteca, comi torta holandesa ao lado do CA de história. aí fui na sorveteria sorbet e as meninas me zoaram porque eu pedi sorvete de paçoquinha. dancei em show de alceu valença. comi de um tudo na feirinha da torre, até o meu queridíssimo cuscuz de tapioca. também revi as casas em que morei e, caceta, o tempo muda tudo. mesmo.

eu troquei meu piercing do nariz por uma argolinha, fiz minha primeira tatuagem, experimentei profiterólis e brócolis {e eu nunca experimento comida}, conheci a chapada dos veadeiros.

a viagem pra brasília foi bem especial também pelas pessoas que eu conheci e eram amigas de internet há tempos. é sempre um prazer trazer mais alguém pro álbum de retratos da vida real.

na chapada eu vivi momentos raros, daqueles que só você reconhece como segundos muito fortes de vida pulsando.

cachoeira de almécegas II

é tudo muito lindo por lá. o céu do planalto central é o mais intenso. e as cachoeiras, mesmo estando com nível baixo de água, eram estupendas. visitamos quatro: almécegas II, são bento, raizama e vale da lua. foi inclusive na são bento que eu passei pelo meu maior desafio interno... saltar de uma cachoeira. era uma altura de no máximo três metros, nada muito radical. e uns meninos estavam pulando, todos mais novos que eu. uma amiga também pulou.

e eu fiquei entre a angústia de 'não ir e me arrepender' ou 'ir e me arrepender'. lá em cima o medo faz travar. a imaginação coloca imagens obtusas do seu corpo boiando, ou você batendo nas pedras antes de cair na água. talvez até seja perigoso de verdade, mas várias pessoas pularam antes de mim e isso de certa forma dava uma segurança com relação ao local da queda. e eu pensava nos meus pais, nos meus amigos. pensava se devia me arriscar assim. pensava se eu não estava sendo boba por não saltar logo. até que parei de pensar e dei um passo em direção ao abismo. e a sensação é como nenhuma outra.

é melhor que doce. é melhor que a trilogia do poderoso chefão. é melhor que se apaixonar. é melhor que dançar. é melhor que beber até os lábios ficarem dormentes. é... é tão bom que você só sente seu coração saindo. e naqueles dois ou três segundos de queda livre nada mais existe no planeta. só a vida implorando que seja sempre assim. só isso. all the way. e falta fôlego. e a batida na água é forte. e água de cachoeira é sempre gelada. mas o mergulho é tão libertador, faz você se sentir capaz de qualquer coisa no universo. foi muito importante sentir isso. a energia da chapada mexeu comigo demais. obrigada, meninas, de coração.

27 janeiro 2008

estamos a viver o império da mediocridade, meu amigo. dos engarrafamentos e shopping centers. dessa falsa modernidade de janotas incultos, de leitores de sydney sheldon. é o fim do mundo, paco. é o fim do mundo.

-igor bentes pena [personagem de luis melo em "terra estrangeira"]

26 janeiro 2008

note to self: never act again as someone else.s rebound

resumo fotográfico ou "a epopéia" parte II


brasília e o congresso.

goiás e a chapada dos veadeiros.

recife e o capibaribe

rio de janeiro e o redentor

são paulo e a estação da luz

curitiba e o jardim botânico

25 janeiro 2008

sobre como tudo começou ou "a epopéia" parte I

só quem mora em natal entende a angústia que é viver aqui. parece que tá na água... todo mundo meio macambúzio, sem planos, reclamando da vida e sem a menor vergonha na cara de fazer algo contra toda essa estagnação.

aí lá por janeiro de 2006 eu tava ficando doida. pirando mesmo. chegava a ser monotemática [um pouco como agora], só falava em ir embora, só pensava em ir embora. e tudo parecia difícil, distante, caro. até que apareceu uma oportunidade de intercâmbio de estudo com trabalho por um preço até acessível. preparar tudo levaria uns cinco meses. e quando eu decidi que ia mesmo, no matter what, apareceu um estágio no melhor jornal da cidade [ou no caso, no jornal menos ruim da cidade]. e contra todas as probabilidades eu escolhi ficar.

e é bom se resignar com as coisas que surgem assim do nada como um pop up. valeu a pena. foram dezoito meses nesse jornal. tem gente de lá que eu adoro encontrar até hoje nem que seja por acaso numa parada de ônibus. em compensação, tem gente de lá que se eu vir na rua faço questão de atravessar... afe.

durante esse tempo na redação me perdi um pouco dos objetivos, eu queria muita coisa ao mesmo tempo, não optava por nada, vivia cansada, mas guardava dinheiro todo mês.

então, quando eu comecei a querer sair do estágio pensava novamente em ir embora de natal o mais rápido possível. só que tinha essa falha de tempo por causa da faculdade... eu teria um bom período livre. mas esse período era muito curto para tentar ir pro exterior e muito longo pra ficar presa nesse saara.

resultado: 90 dias viajando o brasil.

24 janeiro 2008

¡aqui no se rinde nadie!

-camilo cienfuegos [durante o combate contra o exército de fulgencio batista em cuba, 1956]

23 janeiro 2008

nessa nova fase da vida que eu resolvi assumir [a de preparar tudo para ir embora], meu quarto inteiro está sob observação. o mais difícil é a parte que envolve papéis, sejam escolares ou só lembranças. meu primeiro ímpeto é jogar tudo fora, não tenho a vocação pra entulhar coisas. o problema é saber o que é importante ou não... mas tá, essa semana eu iniciei a jornada. peguei a caixa com fichários, agendas e caderninhos da sexta série ao terceiro ano. por mim era tudo lixo. até o fichário estiloso das spice girls que eu usava quando vim morar em natal. minha mãe quis guardar algumas coisas de recordação, uns boletins, uns trabalhinhos com minha letra de criança... essas frescuras. foi uma tarde inteira mexendo em pastas com provas antigas de margens superiores esquerdas enferrujadas do grampo do grampeador. a única coisa realmente interessante estava na agenda de 98, naquela primeira página em que colocamos nossos dados pessoais. quase no final tinha a pergunta "qual seu maior sonho?". e a minha resposta do alto dos meus 11 anos "viajar o mundo inteiro. logo." ahahaha. achei espirituoso de minha parte inserir o logo. mais legal que isso só saber que o sonho continua o mesmo dez anos depois.

21 janeiro 2008

el perro del invierno dentellea mi sonrisa. fue en el puente. yo estaba desnuda y llevaba un sombrero con flores y arrastraba mi cadáver también desnudo y con un sombrero de hojas secas. he tenido muchos amores -dije- pero el más hermoso fue mi amor por los espejos.

-alejandra pizarnik